Projeto ajuda pacientes com câncer a ressignificar a vida
Conheça a história de Fabize Muinhos, que encarou doença pensando não só em si, mas nas mulheres atingidas pelo mesmo mal
O diagnóstico de câncer assusta – mas longe de ser uma sentença, pode ser a porta de entrada para a ressignificação da vida e a formação de uma corrente de solidariedade, como o projeto “Maria Bonita” que você conhece agora.
Ao ser diagnosticada com câncer de mama, em outubro do ano ado, a artista plástica Fabize Muinhos resolveu encarar a doença pensando não só em si, mas nas mulheres atingidas pelo mesmo mal: para atravessar as dolorosas sessões de quimioterapia, a sua reação foi baseada na força da solidariedade. Como tratamento, ela quis cuidar não somente de sua saúde física, como também da saúde emocional de quem como ela, a por um momento delicado da vida.
Nos momentos de perda de cabelo e enjoos, perguntava-se quantas outras mulheres avam pelo mesmo, mas sem ter o mesmo apoio. Assim surgiu o projeto de acolhimento “Maria Bonita”, lançado este mês, e que já reúne uma rede de voluntários de diversas áreas. A ideia é fazer encontros, oficinas de maquiagem e turbantes, receber doação de lenços e serviços que possam ser úteis para as mulheres com câncer de mama.
“Fiquei assustada com o diagnóstico e resolvi ir a fundo na pesquisa sobre o tratamento. Foi uma mudança geral na minha vida, descobri no estágio avançado. Senti as reações, violentíssimas. Com 14 dias perdi o cabelo. Comecei a me perguntar: quem é essa mulher que, como eu, está em tratamento mas não tem as mesmas condições financeiras e muito menos a rede de afeto?”, explica a artista plástica.
Como ela já trabalhava com políticas públicas e mobilização, a ideia foi tomando corpo e a cada dia que comentava sobre o projeto, mais pessoas eram agregadas. Um amigo cedeu o espaço no bairro de São Brás para realização do primeiro encontro, um outro fez a marca do projeto e ajudou a divulgar nas redes sociais, outra se ofereceu para costurar. “A ideia é fazer com que a gente se conheça, que saibamos da história uma das outras também”, afirma, esclarecendo ainda que o projeto deverá ser realizado no bairro da Terra Firme e no distrito de Icoaraci.
“Vamos fazer duas oficinas por mês, com escuta e ações voltadas para a autoestima, que é um ponto fundamental na nossa vida. A baixa autoestima é um dos fatores que leva à depressão. E isso é muito ruim. O ‘Maria Bonita’ nasceu pensando nisso, para o tratamento do corpo e da mente”, diz Fabize.
Fabize Muinhos não esperava que a rede fosse crescer tanto. Ela também já tem planejado oficinas de yoga, jhorei. Mas no início, ela decidiu agir sozinha, começou a pedir doação dos tecidos e de maquiagem no próprio perfil do seu facebook, e foi quando amigos das mais diversas áreas foram se agregando ao projeto. “Para mim, foi um grande milagre!”, diz, feliz e grata. “Já tem psicólogo, professores de educação física também. Uma amiga minha faz parte de uma rede solidária e elas farão uma festa com parte da renda destinada ao projeto. É incrível”, emociona-se Fabize.
A DOENÇA
A experiência da artista plástica com o câncer de mama foi também uma escolha, a partir de sua própria personalidade. Ela confessa que prefere “não viver a doença” e levar uma rotina como se os cuidados com os efeitos e cumprir o calendário de quimioterapias fossem algo a mais no seu dia a dia. “Todos os dias me vejo em um processo de cura. Cura da alma. Esse é o raciocínio e isso que motiva a encontrar outras mulheres que, muitas vezes são arrimo de família, e precisam de apoio”, comenta.
Para ela, o câncer é uma doença que deve ser tratada no campo clínico e também no campo social - o que nem sempre ocorre de forma efetiva no serviço público, que atende a maior parte das portadoras de câncer de mama. “Isso é o ‘Maria Bonita’. Por isso chamamos de rede de afeto, por ser voluntário e de acolhimento, para que sejamos nossos apoios, os nossos braços”, diz. Já foram cadastrados 80 voluntários de diversas áreas, mas quem quiser participar da rede, é só procurar a Fabize que ela está de braços e abraços abertos. “Isso acabou se tornando o meu projeto de vida. Eu renasci”, conta.
FESTA
Linda Cantuária é uma das que resolveu se juntar ao projeto. “Aquilo me tocou bastante, essa vontade de querer dar e às outras mulheres”, diz. Ela já faz parte de um grupo de amigas solidárias que realizam ações filantrópicas. Para ser parceria na ação, ela firmou uma parceria com a organização do tradicional Baile de Máscaras, da Assembleia Paraense, que será realizado no próximo dia 22/02 e parte da renda ser revertida ao projeto Maria Bonita.
“É legal poder conseguir realmente fazer esse projeto acontecer. A gente sabe o que a quimioterapia faz com as mulheres, a pele fica muito sensível, as dores são imensas. Queremos nos juntar às pacientes e à Fabize para montar as oficinas, reunir pessoas em prol dessa causa. O principal objetivo, para mim, é poder manter essas mulheres felizes e amadas”, diz.
Para conhecer mais:
@projetomariabonitabele
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