Estabilidade do dendê e alta da pimenta do reino expõem contrastes em feira de Belém
Enquanto o consumo de dendê segue estável nas feiras de Belém, a alta no preço da pimenta do reino afasta os consumidores; feirantes relatam os impactos da concorrência com supermercados e das oscilações de safra.

Na Feira da 25, localizada na Avenida Rômulo Maiorana, em Belém, o cheiro marcante do dendê e o aroma picante da pimenta do reino revelam mais do que sabores tradicionais: são termômetros da economia popular e da cultura alimentar paraense. Apesar da alta procura por dendê, a pimenta do reino enfrenta uma queda nas vendas devido ao aumento expressivo de preço, segundo feirantes ouvidos pelo Grupo Liberal.
Dendê: sabor em alta e venda estável
José Francisco Farah, feirante há 63 anos, conta que as vendas de dendê continuam boas, mesmo com o avanço de supermercados na oferta do produto.
“O pessoal tá comprando muito dendê. Eu não sei por quê, mas tá comprando bem”, afirma. Segundo ele, o preço da dúzia permanece estável em R$ 36.
Apesar da boa procura, José aponta a concorrência com os grandes varejistas como o principal obstáculo: “O supermercado aceita vários tipos de pagamento e aqui só é dinheiro ou pix.”
A limitação nos meios de pagamento pode influenciar diretamente a decisão de compra dos clientes, principalmente em um cenário onde o consumo está mais digitalizado.
Pimenta do reino: alta no preço e queda nas vendas
A realidade da pimenta do reino é outra. Lívia Santos, vendedora na mesma feira há 45 anos, afirma que o quilo do produto ou de R$ 20 para R$ 50 em um ano, um aumento de 150%. O reflexo foi imediato: “A procura por pimenta do reino tá menor. Menos gente comprando.”
Lívia explica que o alto preço da especiaria afugenta os consumidores, que têm preferido temperos alternativos.
“A maioria dos consumidores gosta mais de cominho do que de pimenta do reino", revelou. Ainda assim, ela aposta na safra que está para chegar e que pode trazer uma redução nos preços. “Depende muito da produção", disse.
O uso diário e o peso no bolso
Mesmo com o cenário de alta, consumidores como o Camilo Blanco continuam fiéis à pimenta do reino no preparo das refeições.
“Uso praticamente todos os dias lá em casa. Carne assada, feijão, frango... Não pode faltar”, diz.
Para ele, o preço tem se mantido estável, pois compra em pequenas doses por R$ 5, o que não evidenciou a ele o impacto total do reajuste.
Camilo destaca ainda a importância da pimenta do reino na culinária regional, especialmente em pratos como a maniçoba: “Sempre usam, né? Não em grande dose porque ela em muita quantidade faz mal, mas tá sempre presente.”
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